ABIA integra Fórum do Agronegócio para debater sistema alimentar do Brasil para o mundo

ABIA integra Fórum do Agronegócio para debater sistema alimentar do Brasil para o mundo

11/09/2023

No dia 18 de setembro, o Fórum do Agronegócio irá reunir mais de 20 lideranças do agronegócio brasileiro, conectando toda a cadeia produtiva para debater o protagonismo mundial do Brasil e propor soluções para ampliar seu papel no que tange ao tema Produzir e Conservar. O evento acontecerá no Parque Governador Ney Braga, em Londrina, no Paraná.

Para enriquecer ainda mais o debate, o diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), Alexandre Novachi, integrará a mesa-redonda “Resiliência dos sistemas alimentares: fortalecer do local para o global”. Segundo a liderança, produzir mais com menos é um desafio que o país tem enfrentado com muita ciência e pesquisa.

Confira a seguir, na íntegra, a entrevista realizada com Alexandre Novachi sobre o tema:

Sociedade Rural do Paraná: Como, na sua visão, eventos como o Fórum do Agronegócio – que unem governo, academia, empresas e especialistas da área – podem contribuir para o desenvolvimento do agronegócio?

Alexandre Novachi: O agronegócio é um sistema integrado de produção de matéria primas, alimentos, bebidas, bioenergia e demais bens e insumos que têm na sua origem produtos agropecuários. Agronegócio é, portanto, integração. Fóruns como esse, que somam conhecimento e visões de múltiplos atores, são essenciais para uma abordagem integrada sobre a promoção do agro brasileiro.

SRP: Quais diferenciais tornam o Brasil uma referência mundial no que tange a capacidade de “Produzir e Conservar”?

AN: São muitos. Recursos naturais, clima, água, tecnologia. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta e vem demonstrando que é possível produzir com sustentabilidade. Não tem como ser diferente, se levarmos em consideração que 49,8% de nosso território é composto por áreas protegidas e preservadas.

Produzir mais com menos é o desafio que temos enfrentado com muita ciência e pesquisa. Gestão eficiente do uso da terra, tecnologia agrícola de ponta, plantio direto, rotação de culturas, integração de culturas e recuperação de áreas degradadas são algumas práticas que vêm refletindo a incorporação da sustentabilidade no dia a dia. Ainda há muito a ser feito, é preciso avançar na agenda da sustentabilidade em todas as etapas da cadeia.

A indústria de alimentos tem um papel de destaque. Processa 60% de tudo o que vem do campo, produz 250 milhões de alimentos todos os anos para o abastecimento da população brasileira e exporta para 190 países. Por sua posição na cadeia de valor - entre a agricultura e a população – é um setor essencial para a disseminação de melhores práticas e padrões de sustentabilidade ambiental, social e de governança junto aos seus fornecedores de matérias-primas e serviços, assim como em parcerias com seus clientes. 

É uma indústria que investe cerca de 1% de seu faturamento anual em ações e projetos de promoção da sustentabilidade. Em 2022 foram 9,6 bilhões investidos na agenda ESG.

SRP: Quais as principais ameaças e desafios enfrentados pelos sistemas alimentares atualmente?

AN: O mundo enfrenta a insegurança alimentar, a demanda por energia renovável e a pressão por preservação ambiental. Ao mesmo tempo, há a questão do desperdício de alimentos, que é alarmante. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 2019, cerca de 930 milhões de toneladas foram descartadas em todo o mundo: 61% nos lares, 26% no segmento da alimentação fora do lar (bares e restaurantes) e 13% no varejo.

É um desafio global, que envolve toda a cadeia produtiva de alimentos, os governos e a sociedade em geral. No Brasil, 42,5% das perdas de não perecíveis no varejo dos supermercados são em consequência da data de validade vencida, que faz com que muitos alimentos, ainda seguros para o consumo, tenham que ser descartados.

É possível um novo olhar sobre o conceito de data de validade dos alimentos industrializados adotado no Brasil. A ABIA apresentou proposta de revisão do conceito da data de validade dos alimentos, baseada na experiência do Best Before, utilizada em diversos países da União Europeia, no Canadá e Estados Unidos. É um conceito de validade que trata de um prazo de durabilidade mínima de alguns tipos de alimentos.

Tecnicamente pode ser aplicado apenas para as categorias de alimentos que apresentem características específicas, tais como baixa atividade de água (geleia, leite condensado etc.), produtos de consumo imediato (chocolates, biscoitos e outros), produtos considerados “shelf stable”, ou seja, aqueles estáveis em temperatura ambiente (macarrão, conservas, grãos, sucos de frutas, leite UHT, produtos enlatados etc.) ou os que passam por processo de esterilização ou ainda os que são embalados a vácuo, ou seja, alimentos não perecíveis ou de baixo risco de contaminação, desde que atendidas as orientações de armazenamento determinadas pelo fabricante.

Não é aplicável, entretanto, para produtos perecíveis, em razão de seus aspectos microbiológicos, principalmente, produtos frescos e que necessitam refrigeração, tais como como carnes in natura, leite pasteurizado de saquinho ou garrafinha, e queijos frescos, por exemplo. para esses produtos, o mais adequado é a indicação do prazo de validade conhecido como “válido até”, já existente na legislação sanitária brasileira.

Acreditamos que é um conceito que precisa ser amplamente estudado no Brasil e, se compreendido como uma alternativa viável, possa ser regulamentado pelos órgãos competentes.

SRP: Quais ações devem ser trabalhadas pensando no funcionamento contínuo dos sistemas alimentares e adaptação às mudanças climáticas? Como tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis?

AN: As mudanças climáticas apresentam desafios para os sistemas alimentares em todo o mundo. São muitas as ações, em diversos níveis, que envolvem governo, iniciativa privada e a sociedade, mas podemos citar a necessidade de mais investimento em tecnologia no campo, boas práticas de manejo, fortalecimento das assistências técnicas, rastreabilidade de fornecedores, cumprimento da legislação e promoção de boas práticas sanitárias. Alavancar programas já estabelecidos, de agricultura regenerativa, como as preconizadas pelo Programa ABC do Ministério da Agricultura; e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, desenvolvida pela Embrapa. Ambos contribuem para reduzir emissões climáticas, ao fixar carbono no solo, assim como garantem a rastreabilidade e geolocalização da produção, assegurando o compromisso das empresas aderentes com a erradicação do desmatamento. 

O avanço do desmatamento ilegal no Brasil é um problema que precisa ser solucionado, pois prejudica a oferta dos serviços ecossistêmicos dos quais depende a manutenção da produção de alimentos, deteriorando, também, a imagem do País e da indústria. 

Mesa-redonda

Além de Alexandre Novachi, a mesa-redonda “Resiliência dos sistemas alimentares: fortalecer do local para o global” também reunirá Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome e representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil; Norberto Ortigara, secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná; Bruno Lucchi, diretor na CNA; Eduardo Brito Bastos, presidente da My Carbon; Guilherme Soria Bastos, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV; e Marcelo Janene El-Kadre, presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP). 

O Fórum do Agronegócio é realizado pela Sociedade Rural do Paraná. A curadoria é de MMarchiori.

Mais informações: www.forumdoagronegocio.com.