Confirmada para Fórum do Agronegócio, presidente da Embrapa reforça importância de integrar cadeias para desenvolver setor

Confirmada para Fórum do Agronegócio, presidente da Embrapa reforça importância de integrar cadeias para desenvolver setor

31/08/2023

No dia 18 de setembro, o 4º Fórum do Agronegócio reunirá lideranças de todo o país para um debate intenso e representativo, que apontará soluções com o objetivo de ampliar discussões relacionadas ao Agronegócio no que tange ao tema Produzir e Conservar.

A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, é uma das convidadas do encontro que é realizado pela Sociedade Rural do Paraná, no Parque Governador Ney Braga, em Londrina (PR). Ela integrará a mesa-redonda sobre Alimentos, fibras e energias renováveis: a integração das cadeias produtivas, a demanda por investimentos e as práticas sustentáveis.

Confira a seguir a entrevista com Silvia Massruhá sobre o tema:

Sociedade Rural do Paraná: Como, na sua visão, eventos como o Fórum do Agronegócio – que unem governo, academia, empresas e especialistas da área – podem contribuir para o desenvolvimento do agronegócio?

Silvia Massruhá: A dimensão da importância do agronegócio, não só para o Brasil, mas para o mundo, reforça a necessidade de integrar o conhecimento, a experiência e as visões de todos os segmentos de alguma forma envolvidos na questão, que transcende a perspectiva da produção de alimentos. Nesse contexto, estão relacionados sustentabilidade ambiental, social, econômica, desenvolvimento com igualdade e justiça social, geração de emprego e renda, incentivos, inovação tecnológica e mais incontáveis aspectos que representam o suporte para que o setor atenda a demandas cada vez mais crescentes e desafiadoras, ainda mais diante das incertezas do futuro em transformação pelas mudanças do clima. Por isso, oportunidades como essas são fundamentais. Servem para a troca de experiências, para o compartilhamento de conhecimento entre atores que representam a expertise de suas respectivas áreas e assim garantir que sejam mantidas em movimento ações realmente efetivas em prol do desenvolvimento do setor. A estrutura que mantém o agronegócio é uma engrenagem que começa com o pequeno produtor e a sua busca por inclusão e crescimento, passa pelo médios e grandes, envolve o Governo e as políticas públicas, a academia, as instituições de pesquisa, até transpor fronteiras regionais e internacionais levando segurança alimentar e o fortalecimento de mercados. Por parte da pesquisa agropecuária, como a Embrapa, o que nos compete é estar presentes sempre, levando conhecimento, tecnologia e inovação para compor essa grande engrenagem que sustenta um dos direitos mais elementares e prioritários da humanidade, que é a alimentação.

SRP: Quais diferenciais tornam o Brasil uma referência mundial no que tange a capacidade de “Produzir e Conservar”?

SM: O Brasil desenvolveu sua agricultura com base em ciência e tecnologia. Cientistas da Embrapa e de diversas instituições públicas e privadas contribuíram decisivamente para a revolução agropecuária que o País experimentou nos últimos 50 anos. A nossa agricultura era precária na primeira metade do século passado, e dependia da importação de alimentos, mas tornou-se uma potência agrícola no século XXI. Aumentamos a produtividade, ou seja, multiplicamos nossa produção e poupamos milhões de hectares de áreas naturais. Isso se deu graças a um conjunto de conhecimentos e tecnologias com forte impacto na sustentabilidade econômica e ambiental da agropecuária. Criamos fórmulas para tornar e manter nossos solos férteis. Os avanços em genética e manejo contribuíram para tornar o Brasil uma potência na produção de café, cana, soja, carnes, milho, feijão e algodão, para citar apenas alguns produtos. Produzimos cada vez mais em cada hectare cultivado. Por isso, chamamos estas soluções sustentáveis de tecnologias poupa-terra. Somente no caso da soja, com estes conhecimentos e insumos, economizamos 71 milhões de hectares de áreas plantadas, o que corresponde à soma dos territórios da Irlanda e da França. Na cultura do algodão, economizamos área equivalente aos territórios de  Portugal e Hungria. Sem ciência e tecnologia, o Brasil precisaria usar muito mais terras para as safras recordes que estamos vendo. Temos recursos naturais, tecnologia, uma ampla rede de fornecimento e serviços, políticas públicas e produtores rurais competentes e inovadores. Isso torna o País altamente competitivo e capaz de conciliar produção e preservação de recursos naturais.

SRP: Qual a importância da integração entre as cadeias produtivas no agronegócio? Como essa integração pode ser feita?

SM: Existem muitas oportunidades que surgem da integração entre cadeias produtivas. Temos uma pesquisa, por exemplo, que identificou cogumelos capazes de crescer na torta do caroço de algodão, reduzindo a toxidez do produto e permitindo aumentar o uso desse material na nutrição de bovinos e inseri-lo nas cadeias produtivas de aves e suínos. A torta do algodão é obtida no processo de prensagem do caroço para a retirada do óleo, ou seja, é um coproduto da produção de biocombustível que pode ser aproveitado comercialmente como alimento para animais. Outro exemplo importante é a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que já está presente em 17,4 milhões de hectares no Brasil e que possibilita a intensificação do uso do solo durante todo o ano, diversificando a produção e as fontes de receitas, conferindo resiliência ao sistema e gerando maior eficiência no uso de insumos. Para que oportunidades como essas sejam aproveitadas em todo o seu potencial, é preciso que o país valorize e invista em ciência, e que tenha políticas públicas que promovam essas iniciativas e favoreçam a inovação e o empreendedorismo

SRP: Pensando na segurança alimentar e energética da população, quais áreas são prioritárias para investimentos?

SM: A capilaridade de áreas que se relacionam à segurança alimentar e energética é muito grande, mas partindo-se do que pode ser considerado um dos pilares da estrutura de apoio ao desenvolvimento e à garantia de produtividade, sem dúvida, a pesquisa é um deles. É da ciência que vêm os recursos tecnológicos e a inovação que   fortalecem os setores produtivos. Se hoje o Brasil já não é mais o país importador de alimentos de 50 anos atrás, foi graças ao suporte da pesquisa, determinante para que fossem superados os desafios da agricultura no cinturão tropical do planeta. Claro que outras áreas também merecem atenção no que diz respeito a recursos, como as políticas públicas que garantam crédito ao produtor, a democratização do acesso à inovação e a digitalização no campo, fundamentais para que haja condições compatíveis ao fortalecimento do setor.

SRP: Como incentivar práticas sustentáveis no agro?

SM: Há uma tendência por parte do setor produtivo de buscar alternativas sustentáveis. Isso vai ao encontro das exigências do próprio mercado e do novo perfil do consumidor. A ciência tem feito a sua parte e as vantagens econômicas e ambientais para que essas práticas sejam adotadas têm sido um dos principais argumentos. Só para citar um exemplo, que já representa por si só um incentivo incontestável, a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) garante mais de 13 bilhões de dólares de economia gerada pela adoção dessa técnica, anualmente, apenas na cultura da soja. Isso graças ao aprimoramento da técnica que permite que as plantas capturem o nitrogênio do ar, diminuindo a adubação e evitando a emissão de toneladas de gás carbônico na atmosfera. Os sistemas sustentáveis de produção, como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Sistemas Agroflorestais (SAFs) e Plantio Direto também são comprovadamente vantajosos para os produtores e os benefícios já representam um dos mais importantes incentivos, porque podem contribuir com o aumento da renda, ao permitirem a obtenção de variados produtos agropecuários na mesma área, reduzem o uso de adubos nitrogenados e de produtos químicos usados no controle de pragas. Políticas públicas como o Plano Safra 2023/2024 incentivam o fortalecimento dos sistemas de produção ambientalmente sustentáveis, com redução das taxas de juros para recuperação de pastagens e premiação para os produtores rurais que adotam práticas agropecuárias consideradas mais sustentáveis. Ações como essas são fundamentais.

Fonte: AI SRP